terça-feira, 1 de março de 2011

Uma palavra sobre Exclusividade

Até metade do século XX, as novidades da moda ficavam restritas às classes mais abastadas da sociedade, demorando a atingir camadas menos privilegiadas econômica e socialmente. Era visível nas ruas o distanciamento que existia entre as aparências de ricos e influentes, minoria antenada com as novas propostas, e os demais, que tinham que correr atrás do prejuízo. Mas a realidade agora é outra, os produtos de moda estão ao alcance de todos em um mesmo tempo, em grande parte graças à expansão e democratização operada pelo seu sistema. Houve uma aproximação em matéria de estilos, formas e cores que estão à disposição das pessoas de classes sociais e lugares distintos, ameaçando, em parte, a zona de conforto de “exclusividade” de alguns.
Pessoas que possuem um status elevado na sociedade, são líderes de opinião, ou mesmo querem transmitir essa imagem, por exemplo, procuram se diferenciar perante a maioria, investindo cada vez mais em uma fórmula secular. Invariavelmente, compõem seus guarda-roupas com peças assinadas por marcas consagradas internacionalmente, símbolos de tradição, sucesso e poder. Isto, com especial destaque para sapatos e bolsas, pois estes itens apresentam sinais mais aparentes (qualidade, design e logos ou detalhes) dessas grifes. Dessa forma, continuam a comunicar por meio de suas aparências o seu status quo.
Bolsa Chanel 2.55 e Sapatos Christian Louboutin
Contudo, no sentido metafórico da palavra, a “exclusividade” parece ser cada dia mais difícil e dispendiosa de ser conquistada. A questão é que os produtos de algumas das marcas mais famosas e tradicionais do mundo, de tão abalizadas por socialites, celebridades e a mídia, tornam-se rapidamente verdadeiros troféus a serem alcançados por mulheres em geral, levando-as a cometer verdadeiras loucuras financeiras para adquiri-los. Sem falar da pirataria que se abate em torno desses objetos de desejo. De tão explorados, têm ficado com a imagem repetitiva e, por vezes, cansada.
Bolsas LV Speedy da Louis Vuitton – mudança de padrão para repaginar o seu design tradicional     
Tal fenômeno reflete perfeitamente os fatos que culminaram no surgimento da moda, quando a burguesia tentava alcançar o visual dos aristocratas, e estes, em contrapartida, criavam novos estilos para se manterem distantes desses emergentes, que surgiram no período do Renascimento. Ou seja, é um ciclo interminável.
Acompanhando o desejo das pessoas que querem se diferenciar, determinadas estratégias de produção e comercialização têm alcançado êxito no sentido de manter o caráter de “exclusividade” de algumas marcas. Um exemplo de sucesso é a Hermès, marca Francesa que está no mercado desde 1837, e que continua a ser símbolo de luxo e tradição.
Bolsas Kelly e Birkin da Hermès
A fórmula do marketing da Hermès para se manter exclusiva é o investimento na própria tradição que a marca conquistou em todos esses anos de existência.  O segredo começa pela maneira artesanal com que manufatura seus produtos, a criteriosa escolha das matérias-prima empregadas nos mesmos e um acabamento impecável. As bolsas, um dos seus carros chefes, podem ser encomendadas e personalizadas, mas preservam as características da grife, o design elegante, minimalista, monocromático, sem exploração ostensiva da sua logomarca. E, a depender do modelo e material escolhidos, podem ultrapassar a cifra dos 50 mil euros e demorar até seis meses para ser entregue, o que reforça o valor de exclusividade dessas peças.
Mesmo assim, a Hermès tem sofrido com as investidas de alguns plagiadores de plantão, mas que ainda não conseguiram abalar esse conceito de exclusividade que agrega valor aos seus produtos. Até quando?

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