domingo, 25 de maio de 2014

Movimentos da moda: do ecologicamente correto ao Fast fashion

Na história, a moda sempre acompanhou as mudanças sociais, econômicas e estéticas ocorridas no mundo. O conceito conhecido como Zeitgeist, espírito do tempo, rege essa indústria que, fundamentalmente, busca atender, além de gerar necessidades em seus consumidores, refletindo/retratando um período.

Nesse sentido, é interessante analisar dois exemplos de marcas célebres que apresentam movimentos díspares em nosso tempo, a Hermès e a Moschino. Enquanto a primeira incorpora a sustentabilidade como um dos valores presentes em sua filosofia, a segunda, reforça a ideia de efemeridade da moda, de consumo e descarte acelerado de seus produtos. Isso reflete bem os vários sentimentos que permeiam nosso tempo, no qual a preocupação com o futuro do mundo e com os reflexos de uma crise econômica, ambos de apelo coletivo, convivem com o sentimento ainda forte de individualismo e hedonismo, características da pós-modernidade. Esse período seria, portanto, marcado pela diversidade e dualidade de pensamentos, crenças e sentimentos que norteiam as escolhas de pessoas e grupos.

Colar da Petit h criado pelo designer Godefroy de Virieu
 com tecido dos lenços Hermès
A Petit h, oficina de reciclagem e linha de produtos da marca francesa Hermès, tem como principal estratégia evitar o desperdício de matérias-primas nobres, que antes não teriam utilidade, por meio do conceito de transformação. Tudo isso, com uma proposta de design sustentável e apelo ao ecologicamente correto.

Pedaços de couro utilizados em bolsas, os famosos lenços e etc., que não passaram no altíssimo controle de qualidade da Hermès (ver artigo Uma palavra sobre exclusividade -http://dialogoscomamoda.blogspot.com.br/2011/03/uma-palavra-sobre-exclusividade.html) são agora transformados em outros produtos de moda, de decoração e arte com a assinatura de estilistas, designers e artistas convidados pela Petit. 

Bracelete da Petit h com tecido dos lenços Hermès
Tal estratégia também reflete o sentimento dos europeus após a crise econômica iniciada em 2008. Afinal, não é de bom tom desperdícios em momentos de dificuldades, principalmente em sociedades que já conviveram com a escassez proporcionada por guerras. Com isso, a marca aumenta a sua receita ao mesmo tempo que valoriza a sua imagem institucional.


Desfile outono-inverno Moschino 2014/15
A Moschino, por sua vez, apresentou em seu último desfile uma tendência bem oposta, trazendo um conceito que vai de encontro a questões ligadas à sustentabilidade ou a qualquer mudança na cultura de consumo no mundo. Com tom irônico, sua última coleção propôs elementos de estilo inspirados na rede de lanchonetes de Fast-food Mcdonald’s e na mania de valorizar logomarcas em roupas e acessórios, febre nos anos 1980 e 1990. 
No intuito de reforçar esta proposta de produtos de rápido consumo, a marca já oferecia no dia seguinte as criações em sua loja. Isso, numa clara alusão a estratégia da indústria e varejo de moda conhecida como Fast fashion, que busca atender a um público cedento por novidades e que consome com uma periodicidade importante, nada ecológico!

Indicação: Vídeo do programa Mundo S.A. da Globo News, que aborda o case da Petit h–http://globotv.globo.com/globo-news/mundo-sa/t/todos-os-videos/v/mundo-sa-entrevista-a-herdeira-da-hermes-pascale-mussard/3356833/

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